Um encontro para pensar (e sentir) a arqueologia

No passado dia 7 de março, participei no Workshop “Educação, Democracia e Arqueologia”, que teve lugar no Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). O evento, organizado pela Cristina Gameiro, o Sérgio Gomes e a Ana Vale, reuniu arqueólogos e arqueólogas de várias gerações e estudantes numa partilha de testemunhos e conversas abertas sobre o que foi, o que é — e o que pode ser — a arqueologia em Portugal.

O Workshop aconteceu no âmbito do projeto de investigação “50 Camadas de Uma Revolução:A Arqueologia Pré-Histórica desde o 25 de Abril de 1974”, do qual faço parte enquanto investigadora.

Foi um momento raro de escuta e diálogo, com cerca de 50 participantes atentos, e que me fez lembrar como é essencial criar tempo e espaço para pensar o percurso da nossa disciplina nestas décadas de Democracia (também espreitando o que está antes).

Porque, sim: a arqueologia também é profundamente política — e profundamente humana. Em boa hora que a Cristina Gameiro e o Sérgio Gomes tiveram esta excelente ideia de imaginar um projeto destes e agora que o estão a concretizar terem a iniciativa de nos convocarem para refletir e dialogar.

Na minha intervenção, abordei um tema que venho aprofundando com cada vez mais interesse: a relação entre arqueologia, democracia e comunicação. Iniciei esta reflexão em 2023 com a participação num congresso com uma comunicação que abordava a perigosa relação entre a pseudoarqueologia e os movimentos políticos extremistas, nacionalistas e racistas que enfraquecem a Democracia, a igualdade e a inclusão. Continuei a pensar e a ler sobre isso e no dia 7 partilhei os avanços do meu pensamento.

Comecei por sublinhar algo que me parece fundamental: a arqueologia não é apenas sobre o passado — é também sobre o presente, e sobre o tipo de futuro que queremos construir. E há imensas formas de a arqueologia contribuir construtivamente para os grandes desafios e dilemas que se nos deparam no séc. XXI.

Num contexto em que a democracia está sob ataque, e em que proliferam discursos desinformados, sensacionalistas ou mesmo perigosamente ideológicos sobre o passado, a arqueologia não pode manter-se à margem. Temos uma responsabilidade: não apenas estudar o passado, mas também de o comunicar e de o entrelaçar no presente como forma de nos ajudar a compreender o que acontece e como podemos pensar e agir no futuro.

É crucial mostrar, com clareza e sentido crítico, como os vestígios que estudamos ajudam, por exemplo, a compreender colapsos ou adaptações, mas sobretudo a compreender como as comunidades vivem transições sociais, ecológicas, económicas e até políticas — tanto no passado como no presente. E nós estamos numa época de transição – digital, económica, social e política.

Sublinhei que a arqueologia tem um papel ativo na construção de uma cidadania informada. Que pode — e deve — contribuir para o combate à pseudoarqueologia e às narrativas distorcidas que alimentam teorias da conspiração ou ideologias extremistas. Não necessariamente interpelando diretamente esses fenómenos, mas apresentando-se como alternativa. E que é urgente fortalecer a nossa presença nos meios de comunicação, nas redes sociais, nas escolas e até nas políticas públicas.

Tenho mais ideias sobre este tema sobre o qual não paro de pensar. Irei partilhando por aqui.

Veja no site da Universidade do Porto

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